terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ideologicamente falhado





À medida que fui crescendo, fui também reencarnando em mim certos ideais, que ainda hoje represento com orgulho. São normalmente frutos do que se ouve, do que se vê, do que se concorda, do que se acha que se deve defender, oriundos de conversas, histórias, leituras, amizades, sentimentos, valores e avaliações de acções vividas ou imaginadas.
No fundo, vamos desenvolvendo a nossa personalidade mediante os ideais que nos identificam e que nos moldam a maneira de ser e de agir.
Mas o reflexo da minha amplitude ideológica é de facto uma enorme falha, falha repercutida na falta de uma especialização em algo que supostamente me identificaria de caras, não naquilo que eventualmente faço satisfatoriamente, mas sim naquilo que realmente seria muito bom.
O que não faltam são exemplos de realização pessoal ou profissional com sucesso, esses sim, são muito bons em algo e por isso também estão muito bem na vida.
Este meu desejo de tentar saber ou fazer um pouco de tudo a nenhum lado me levou.
Lamento-me a mim próprio por este erro de estratégica ideológica, sinto-me bem com minha polivalência multifacetada, mas de facto o meu ego incompleto frustra a minha realização pessoal, gerando em mim uma vontade de regressar ao passado e dotar-me tecnicamente numa especialidade que me realizasse por completo. E qual seria?
Ora aí está, os meus gostos e aptidões foram-se alterando à medida que o tempo passou, se no passado não a encontrei e ainda hoje, mesmo que pudesse alterar o rumo que o passado tomou, nunca iria a tempo de me conseguir decidir, porque a questão é que simplesmente não sei, nunca soube e vou mesmo ficar sem saber.
Revejo-me em muitas pessoas que se esforçaram em ver realizadas as primeiras necessidades que vão aparecendo no começo da vida adulta, adiando para outras núpcias a decisão mais importante do resto das suas vidas.
Bom, tive as minhas desconfianças, mas nunca as desenvolvi ao ponto de me decidir e investir em alguma, enfim… não passaram de ideologias falhadas!
Podia não ter sido assim, mas o facto é que nem todos são predestinados, por isso o que sobressai em mim é a humildade de ser quem sou.  

domingo, 12 de dezembro de 2010

Aperta, aperta com ela!


Alguém gritou…
Aperta, aperta com ela!
Quem? Mas quem é ela?

A expressão é conhecida, mas da música pimba do Emanuel.
Se fosse acompanhado pela Maria teria percebido naquele instante, mas não era o caso.
Não havia muitas pessoas por perto, talvez umas três, uma que se cruzava comigo enquanto caminhava, outra sentada num vão de escada e a que ia à minha frente sabia que não tinha dito nada.
Mas a dúvida permanecia em mim…
Aperta! Aperta com ela!?
Caminhava e meditava…
Bom, parecia-me um desabafo, "ela"… podia ser a malfadada crise, mas neste caso é ela que aperta connosco e não nós com ela.
Ou então, poderia ser era o chavão muito utilizado até pelos nossos políticos, o célebre “temos que apertar o cinto” passando a fivela a tomar o lugar do "ela", pois é com ela que nós vamos apertando o cinto á medida que a crise insiste em permanecer por cá.
Assim como podia ser a taxa de desemprego que insiste em aumentar, que vai apertando a vida das famílias e as suas despesas.
 Muito embora me tenha apercebido que a azáfama das compras natalícias tenha diminuído, a loucura do consumismo desenfreado existe, mas não é para todos.
Num rápido meia volta volver, regressei ao local, com o claro intuito de ver esclarecida a questão.
Qual não é o meu espanto que encontrara a pessoa sentada no vão da escada.
Estava esclarecido… e só com um olhar… ainda que mesmo assim, um bocado de papelão à sua frente o reforçasse…
Era ela… a Fome!
A Fome que aperta!
Apertava com a Fome enquanto ninguém o ajudasse a matá-la!
E ainda hoje ouvi o Presidente da Republica dizer que nos devíamos sentir envergonhados por existirem em Portugal pessoas com fome.
Mas não, vergonha não foi o que eu senti naquele momento, o meu sentimento foi de revolta por não poder ajudar mais…
Vergonha? Que a tenha quem pode ajudar e não ajuda!






quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Saudade






Quem não escreveu sobre a Saudade?

A Saudade é imensa, mas muito íntima, pessoal e até mesmo patriota na sua escrita.

Onde não existe saudade?

Há Saudade na poesia, na música, no canto… em todos os meios que possam ser utilizados para a exprimir.

E quando o fado canta a Saudade…
não há nada mais português!

Saudade é uma saudação à solidão!

A saudade é o rebento de um incesto de sentimentos entre a Amizade e o Amor, que se revela da distância que nos afasta de alguém.

Este afastamento retrata um passado, de quem não está separado, mas que um dia esteve bem junto a nós.

A saudade será a prova real no futuro, de um passado promissor, vivido no presente. 

Ser saudosista é ter saudade?

Sim, mas num aspecto mais ideológico, cronológico e temporal.

Nem todos somos muito saudosos, mas todos sentimos saudade.

Saudade também pode ser um nome próprio,
 nome de localidade, de plantas, …
de todo um universo que não exprime na realidade a sua verdadeira composição…

Saudade é tristeza, angústia, nostalgia,
 recordações que revelam sentimentos de
 impotência pelas ausências humanas.

E quando a saudade chora é porque o coração sente
 e só não a sente quem não é filho de boa gente!

Mas podes sempre “matar a saudade”!

As lembranças que o tempo não apagou são memórias que o passado deixou e nem a beleza da amendoeira em flor, alegra a saudade que se sente por um amor.