Foi num paraíso como este que apanhei um dos maiores, senão o maior susto da minha vida.
Não precisamente nesta praia, mas numa outra também em Porto Covo.
Era o último dia de uma semana de férias que me tinha restado para gozar praia com a família.
No inicio destas pequenas férias, e porque tenho um filho com seis anos, tive o cuidado de escolher uma praia que, principalmente ele, e nós por consequência, pudéssemos brincar, ao mesmo tempo descansar, esquecer a vida agitada da cidade e usufruir do melhor da nossa Costa Vicentina.
Depois de uma minuciosa investigação, a praia eleita foi a “Praia da Pererinha”.
Excelente, com maré cheia ou vazia, foi um filho a puxar pelo pai todo o dia!
Era o barco, era a bola, a seguir a prancha e depois as raquetes… enfim, uma alegria que durava até escurecer.
Mas a semana estava a acabar e só faltava um dia, foi então que alguém se lembrou,
“Hoje vamos todos… mas vamos conhecer outra praia!”
A ideia não me pareceu mal, mesmo que não fosse uma praia calma, só teria que estar ainda mais atento ao miúdo, que por andar na piscina desde os quatro anos, tem a mania que sabe nadar…
Lá chegamos à dita praia, a “Praia da Samoqueira”, bem escondida de todos, vista cá de cima das rochas, parecia mesmo um paraíso, água transparente, formando uma baía entre duas enormes rochas… e pensei eu…
“Porreiro pá! Prainha bacana, que pena só termos vindo à tarde…”.
Lá abancámos e nos besuntamos todos! E porque eu estava muito vermelho, a minha mãe ainda insistiu em por mais um bocadinho nas costas, enquanto eu resmungava que tinha que ir para junto da água, pois o artista já lá andava…
”Ó filho, mas eles estão lá, olham por ele!”, retorquía a minha mãe!
Mas eu não estava descansado…
Á pois é bebé! Lá estava ele a esticar-se… parecia um golfinho…lá liguei o gravador…
“Não vás pr`aí, chega mais pr`áqui”...
Enfim, o papel obrigatório de pai, a lengalenga do costume…
Nisto chega a avó, alegre e contente para a macacada com o neto…, passado pouco tempo quis nadar um pouco e afastou-se uns dois,três metros…nadava, nadava, mas algo se passava… não saía do mesmo sítio… não conseguia regressar… como a minha mulher estava por perto pediu-lhe ajuda, mas a situação agravou-se… as duas não se largavam e estavam de repente a ser arrastadas por uma corrente que as puxava para a rebentação das ondas, onde já seria difícil tentar solucionar o problema… e isto em segundos!
Foi tão rápido que cheguei a pensar que estavam a brincar, de seguida achei que a minha mulher esticava a mão e facilmente a puxava…mas não…
De repente o problema dobrou, já eram as duas a pedir ajuda, as duas mulheres mais importantes da minha vida!
Gritei:
“Filho não saias daí, o pai já vem!”,” Tomem conta do meu filho!”
Mergulhei, mergulhei duas vezes, pensei…
”Vou posicionar-me por trás da minha mãe e vou empurrá-la, enquanto a minha mulher tenta puxá-la, talvez resulte…”.
Teoricamente parecia-me possível…mas na prática… na prática não, simplesmente mais um corpo na corrente!
Era incrível a sensação de impotência, agora sim… o que seria de nós…
O problema triplicara, éramos agora três em grande aflição e com duas alternativas, deixar-nos arrastar pela corrente que nos levaria à rebentação das ondas que provavelmente nos projectariam contra as rochas, ou, tentar chegar às rochas antes da rebentação.
Parecia-me lógica, a salvação era as rochas, antes ou depois, já nem queria saber, porque naquele momento a prioridade já era ajudar a manter a minha mãe ao cimo da água, o que já estava a ser muito difícil, pois a minha mãe é uma pessoa forte e estava já muito cansada, para a manter ao cimo, eu próprio tinha já, várias vezes submergido, a minha resistência também começava a dar sinais de desgaste…
Entretanto, nesta aflição, a minha mulher soltara-se e tentava sozinha salvar-se…
A própria corrente que nos havia arrastado para este pesadelo, decidiu ajudar-nos e enquanto procurávamos sobreviver, aproximou-nos das rochas…
Depois de as alcançar, mais um problema… não conseguia agarrar a rocha, os dedos escorregavam, uma mão segurava a minha mãe, outra tentava agarrar a rocha, a rocha continuava a escorregar, as ondas já eram maiores, já nos passavam por cima… não podia largar a minha mãe, sabia que podia não resistir, mas ou mesmo tempo precisava de uma forma de agarrar-me á rocha para nos salvarmos.
Dei-lhe um puxão forte para perto de mim, larguei-a por uns instantes, para tentar prender-me á rocha e por sua vez puxa-la…apercebi-me que as minhas pernas se prendiam em algumas arestas que se cravavam na pele, os dedos escorregaram, mas o pulso ficara preso numa saliência… era só agarrar a minha mãe com a mão que me restava… mas já não lhe chegava, estava tão perto e tão longe ao mesmo tempo.
Estiquei-me o mais que pude, agarrei-a… mas a mão escorregou-me… estava muito mal preso à rocha…mas era a única maneira, voltei a tentar agarrá-la, desta vez pelo pulso, puxei-a com muita força só com um braço que resultou numa dor muito forte no abdómen, nesta altura temi o pior.
Mas ela estava ali junto á rocha, era só mais um esforço, gritei-lhe,
“Agarra-te á rocha caralho! Sobe! Sobe!”.
Ela já não tinha forças, eu também estava esgotado, mas estávamos dentro de água e a tentar subir para cima das rochas, apercebo-me que chegou um rapaz e que ainda com uma palmada lhe deu um empurrão que me ajudou a puxa-la para cima da rocha, mas que não pode ajudar mais, pois tinha que ir ajudar a salvar um outro rapaz, que entretanto, também querendo ajudar, já estava em dificuldades.
Durante isto tudo, pensava também na minha mulher, se estaria bem e no meu filho.
Estávamos a salvo, vi a minha mulher também em cima da rocha, aliás todos acabaram por sair pelas rochas até á praia.
Foi uma experiência nova, daquelas que não se quer repetir, cheguei á praia e estava cheio de sangue, que me escorria pelo corpo, dos cortes da única maneira que arranjei para me segurar á rocha.
Avistei o meu filho, estava onde o deixei,
“Então filhote, que estás a fazer?”
“Estou a brincar, o que tens pai?”
“Nada filho, dá um abracinho ao pai! Está tudo bem!”.