************* Ligar o Som *************
“Boas! É um JackDaniels por favor, com
duas pedras!”
“Obrigado”
Ao virar-me, uma miragem… uma troca de
olhares… daqueles que gravamos na memória e ali permanecem por tempo
indeterminado. Não é um olhar de ver, é um olhar de querer!
Um olhar sedento de promiscuidade,
insinuante, misterioso e audaz, afirmando que é capaz de dar a volta ao rapaz!
Mas se fosse provocação, não ficaria
por ali não!
Até porque associado ao olhar, um
sorriso maroto e um andar… andar não, um desfilar! Minha nossa, até me babo!
Nisto, no meio da multidão, o incrível,
esvaneceu-se da minha vista. Procurei, procurei, procurei pelo bar inteiro e
nada. Fdss que cena esta… teria sido mesmo uma miragem?
“Oi!”
“Oi?” Que voz doce é esta atrás de mim?
“É comigo?” Gaguejei eu.
“Não querias que fosse?”
“Não… não queria… quero!”
“Ah, ah… gostei, tens sentido de
humor!”
“Tenho sentido tenho… a tua falta… uma
vida inteira!”
“Hi, hi… és sempre assim … bem-disposto?”
“Sim… chego a acordar assim… há também
quem lhe chame tesão!”
E à primeira palavra mais sexualmente acesa,
o sorriso permaneceu, o olhar brilhou mas fez um silêncio, como se esperasse a
minha iniciativa, se me iria tornar desagradável ou se deixaria a conversa
acontecer inesperadamente e naturalmente.
Mas estávamos os dois expectantes e eu
também me limitei a um sorriso de lábios e um olhar pequenino.
“Não sou quem tu pensas.”
Quebrou-se o silêncio.
“E em quem penso eu?”
“Numa mulher fácil!”
“Ah… então eu penso isso!?”
“Pensas, mas não sou nem uma nem
outra.”
“Como? Nem fácil, nem difícil?”
“Não sou mulher, nem fácil.”
“Ah, ah, ah…”
Desta vez sorri eu, mais do que ela…
mas o que é que ela pretende, testar-me?
Porque eu não… mau… será que me enganou
mesmo… não acredito… um gajo sabe reconhecer estas cenas pá… ou não… ai…
Claro que não estúpido, é ela a curtir
com a tua cara!
“Podes até não ser fácil. Mas és
mentirosa ou brincalhona! E vou acreditar na segunda.”
“Mum, mum, brincalhão és tu! E agora?”
“Agora? Fácil, muito fácil!”
Sem hesitar, destemido, aproximei-me,
ela não se afastou. Insinuei-me, ela deixou-se levar.
Ao som da música, encostei-me e
acariciei-a, senti-lhe o perfume, mumm um cheirinho apetitoso e muito guloso…
Como reagiria ela se eu confirmasse de
facto a dúvida que ela própria tinha lançado?
Teria que ser discreto, mas ao mesmo
tempo atrevido.
Mas eis que ela interrompe:
“Olha, vou ao WC, queres vir comigo?”
Uiiiii… é agora que ela vai comigo ao
WC dos homens e vai urinar de pé ao meu lado, como nos filmes ah ah ah ah…
“Vou, claro que sim!”
Enquanto caminhávamos na direcção do
WC, contemplava-lhe o rabo, meu deus, que rabo! Em forma de coração arrebitado,
balançando a saltitar e a convidar ao devaneio…
Não, não há, nem pode haver dúvidas!
Ela estende-me a mão para não nos
perdermos, criando uma espécie estranha de intimidade pública, que nos uniu e
nos arrastou para um local decerto mais recatado para o momento.
“Já volto.”
E entrou no WC correto ou pelo menos no
que eu esperava. Lá está, é uma brincalhona, pensei eu.
“Oi, estou de volta!”
“Ótimo… foste rápida!”
“Ahah… sim!”
Mau, que sim foi este? Um sim, como
quem diz, foi rápido porque nem me despi, foi só saca-lo e sacudi-lo lol!
Ha, ha, ha… deixa-te de merdas, é um
mulherão… e é linda e boazona… não pode haver dúvidas porque quando não é o
caso, normalmente ou não, topasse, é diferente, é ou deve ser diferente, digo
eu, que nunca passei por uma situação como esta.
Mas ali estávamos nós, no recato de um
recanto de um lavatório. E foi ali. Foi ali que eu tomei a iniciativa de
iniciar um cortejo de galanteios, piropos elogiosos e sedutores. E disse-lhe
por fim:
“Afinal és uma brincalhona!”
“Sou” E pôs a língua de fora mostrando-me
um piercing.
“Gostas?”
“Gosto, gosto de ver, nunca
experimentei…”
O seu sorriso foi muito explícito,
entendi claramente, vai ser agora.
E continuando com a língua de fora,
abanou a cabeça a fazer-me uma careta. À qual retribui de igual forma. As duas
caretas aproximaram-se e as duas línguas tocaram-se, começando a brincar uma
com a outra. As mãos também… depois uniram-se, os lábios imiscuíram-se numa
brincadeira entre sorrisos e carícias.
E quando menos esperava, quando já não
precisava de prova nenhuma de nada, a minha mão que escreve, a mais irrequieta
e atrevida, talvez porque não tivesse ainda recebido a informação total do meu
cérebro, num movimento precipitado, agindo de forma insensata mas determinada,
esgueirou-se entre as suas pernas até ao mais escondido refúgio feminino.
Ela esbugalhou os olhos, recuou e
afastou-se um pouco de mim.
“Não era preciso tanto!”
“Calma… desculpa, foi apenas… não sei…
talvez o meu subconsciente tivesse ainda mantido uma réstia de dúvida do facto
de teres dito que não eras mulher!”
“Sim. E não sou. Mas também não o serei
contigo!”
…