domingo, 20 de maio de 2012

É não é


                                          *************    Ligar o Som     *************


“Boas! É um JackDaniels por favor, com duas pedras!”
“Obrigado”

Ao virar-me, uma miragem… uma troca de olhares… daqueles que gravamos na memória e ali permanecem por tempo indeterminado. Não é um olhar de ver, é um olhar de querer!
Um olhar sedento de promiscuidade, insinuante, misterioso e audaz, afirmando que é capaz de dar a volta ao rapaz!
Mas se fosse provocação, não ficaria por ali não!
Até porque associado ao olhar, um sorriso maroto e um andar… andar não, um desfilar! Minha nossa, até me babo!
Nisto, no meio da multidão, o incrível, esvaneceu-se da minha vista. Procurei, procurei, procurei pelo bar inteiro e nada. Fdss que cena esta… teria sido mesmo uma miragem?

“Oi!”
“Oi?” Que voz doce é esta atrás de mim?
“É comigo?” Gaguejei eu.
“Não querias que fosse?”
“Não… não queria… quero!”
“Ah, ah… gostei, tens sentido de humor!”
“Tenho sentido tenho… a tua falta… uma vida inteira!”
“Hi, hi… és sempre assim … bem-disposto?”
“Sim… chego a acordar assim… há também quem lhe chame tesão!”

E à primeira palavra mais sexualmente acesa, o sorriso permaneceu, o olhar brilhou mas fez um silêncio, como se esperasse a minha iniciativa, se me iria tornar desagradável ou se deixaria a conversa acontecer inesperadamente e naturalmente.
Mas estávamos os dois expectantes e eu também me limitei a um sorriso de lábios e um olhar pequenino.

“Não sou quem tu pensas.”

Quebrou-se o silêncio.

“E em quem penso eu?”
“Numa mulher fácil!”
“Ah… então eu penso isso!?”
“Pensas, mas não sou nem uma nem outra.”
“Como? Nem fácil, nem difícil?”
“Não sou mulher, nem fácil.”
“Ah, ah, ah…”

Desta vez sorri eu, mais do que ela… mas o que é que ela pretende, testar-me?
Porque eu não… mau… será que me enganou mesmo… não acredito… um gajo sabe reconhecer estas cenas pá… ou não… ai…
Claro que não estúpido, é ela a curtir com a tua cara!

“Podes até não ser fácil. Mas és mentirosa ou brincalhona! E vou acreditar na segunda.”
“Mum, mum, brincalhão és tu! E agora?”
“Agora? Fácil, muito fácil!”

Sem hesitar, destemido, aproximei-me, ela não se afastou. Insinuei-me, ela deixou-se levar.
Ao som da música, encostei-me e acariciei-a, senti-lhe o perfume, mumm um cheirinho apetitoso e muito guloso…
Como reagiria ela se eu confirmasse de facto a dúvida que ela própria tinha lançado?
Teria que ser discreto, mas ao mesmo tempo atrevido.
Mas eis que ela interrompe:

“Olha, vou ao WC, queres vir comigo?”

Uiiiii… é agora que ela vai comigo ao WC dos homens e vai urinar de pé ao meu lado, como nos filmes ah ah ah ah…

“Vou, claro que sim!”

Enquanto caminhávamos na direcção do WC, contemplava-lhe o rabo, meu deus, que rabo! Em forma de coração arrebitado, balançando a saltitar e a convidar ao devaneio…
Não, não há, nem pode haver dúvidas!
Ela estende-me a mão para não nos perdermos, criando uma espécie estranha de intimidade pública, que nos uniu e nos arrastou para um local decerto mais recatado para o momento.

“Já volto.”

E entrou no WC correto ou pelo menos no que eu esperava. Lá está, é uma brincalhona, pensei eu.

“Oi, estou de volta!”
“Ótimo… foste rápida!”
“Ahah… sim!”

Mau, que sim foi este? Um sim, como quem diz, foi rápido porque nem me despi, foi só saca-lo e sacudi-lo lol!
Ha, ha, ha… deixa-te de merdas, é um mulherão… e é linda e boazona… não pode haver dúvidas porque quando não é o caso, normalmente ou não, topasse, é diferente, é ou deve ser diferente, digo eu, que nunca passei por uma situação como esta.
Mas ali estávamos nós, no recato de um recanto de um lavatório. E foi ali. Foi ali que eu tomei a iniciativa de iniciar um cortejo de galanteios, piropos elogiosos e sedutores. E disse-lhe por fim:

“Afinal és uma brincalhona!”
“Sou” E pôs a língua de fora mostrando-me um piercing.
“Gostas?”
“Gosto, gosto de ver, nunca experimentei…”

O seu sorriso foi muito explícito, entendi claramente, vai ser agora.
E continuando com a língua de fora, abanou a cabeça a fazer-me uma careta. À qual retribui de igual forma. As duas caretas aproximaram-se e as duas línguas tocaram-se, começando a brincar uma com a outra. As mãos também… depois uniram-se, os lábios imiscuíram-se numa brincadeira entre sorrisos e carícias.
E quando menos esperava, quando já não precisava de prova nenhuma de nada, a minha mão que escreve, a mais irrequieta e atrevida, talvez porque não tivesse ainda recebido a informação total do meu cérebro, num movimento precipitado, agindo de forma insensata mas determinada, esgueirou-se entre as suas pernas até ao mais escondido refúgio feminino.
Ela esbugalhou os olhos, recuou e afastou-se um pouco de mim.

“Não era preciso tanto!”
“Calma… desculpa, foi apenas… não sei… talvez o meu subconsciente tivesse ainda mantido uma réstia de dúvida do facto de teres dito que não eras mulher!”   
“Sim. E não sou. Mas também não o serei contigo!”

                                                   …